MODERNIDADE E DECORAÇÃO

Foi a partir da aceleração do processo de industrialização do país, com conseqüências diretas, tais como o êxodo rural e a imigração, que a concentração da população nas cidades se acentuou. O crescimento urbano desordenado, além de descaracterizar as cidades, acaba por misturar pessoas de origens e classes sociais diversas, gerando nas camadas de maior poder aquisitivo uma necessidade atávica de diferenciação (mesmo entre as pessoas dessas mesmas camadas), algumas vezes para marcar diferenças, outras por puro exibicionismo ou ostentação.

Essa diferenciação pode ser observada em especial no modo de vestir (ou moda), na posse de objetos refinados e outros sinais exteriores. As residências e sua decoração incluem-se também na composição da diferença, quer pela forma quer pelo conteúdo.

É nesse tipo de cenário que surge a figura do designer (o design guarda uma relação estreita com os movimentos sociais), o intérprete das aspirações estéticas de pessoas e grupos, gerando tendências que podem ser tanto criativas quanto o resultado de releituras de movimentos passados. A decoração é um dos canalizadores de uma parte dessa criação.

Assim é que podemos observar movimentos que marcaram época e que ainda influenciam a decoração contemporânea, como o art nouveau, com seus motivos florais e femininos e seus excessos ornamentais; o art decô (representado principalmente pelos alemães da Bauhaus), uma reação “geométrica” ao art noveau. A partir dos anos 60, a tendência passa a ser a dos estilos alternativos, que acabaram por desembocar no minimalismo dos anos 90 (resumir a decoração apenas ao que é essencial), com seu branco predominante e móveis básicos.

Nos tempos atuais, as pessoas em geral buscam o singular, o personalizado, o versátil; querem mais “calor” na casa e, para isso, pedem-me que lhes assessore relativamente à combinação de cores como o preto, o marrom escuro e o bordô; perguntam-me sobre tapetes felpudos e sobre a possibilidade de utilizarem um lustre de cristal, à moda antiga, na sala, combinando com quadros coloridos e abstratos (ao lado dos tradicionais com marinhas e naturezas-mortas).

Penso que essa tendência tem a ver com o sentir-se bem onde se vive, ou seja, misturando (com bom gosto, evidentemente) coisas que, independente de modas ou tendências passadas ou futuras, revele a personalidade de quem mora na casa.

Acredito que essa talvez seja a principal função da decoração, a de criar uma identificação entre a residência e seus moradores, gerando conforto e bem estar, para os olhos e para a alma.

Até a semana que vem.

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